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Brasil

O brasileiro e a lavação da burra

18 de janeiro de 2021
O brasileiro e a lavação da burra
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Brilhante ensaio de Ângelo Monteiro. Uma confluência de fatores tornou a leitura ainda mais interessante pra mim. Explico.

Diz Monteiro, reverberando outros, que o brasileiro só pensa no presente (incluso aí o brasileiro que não se vê como brasileiro, grossas fileiras). Que só pensa em lavar a burra (receber, ainda que de maneira imerecida, mas receber — normalmente dinheiro ou vantagem financeira).

Isso, é claro, tem profundas influências para a vida intelectual. Ou para a vida pseudo-intelectual que se pensa viver no Brasil.

Da minha experiência pessoal, trago o seguinte exemplo: em base que varia de semanal a diária, vem gentes pedir “dicas de livros”, “dicas de estudos”, sanar dúvidas e todo tipo de contribuição e ajuda relacionada ao fato do mundo intelectual, tentar me meter em algum projeto mirabolante que talvez daqui 5 ou 10 anos te pague um pingado e um pão na chapa. Vêm perguntar a mim e não ao primeiro que aparece na calçada porque me julgam, consciente ou inconscientemente, digno do esclarecimento.

Atendo todos. Ou pelo menos sempre atendi até então. Quando sou incapaz de resolver o problema, indico caminhos possíveis.

O que me chama a atenção são algumas abordagens. Enquanto uns são muito respeitosos, cordatos, outros já acham que estamos aí é para isso mesmo. Que o conhecimento adquirido, por paupérrimo que seja, mas que o motivou para filtrar entre o primeiro que passa na rua e eu, foi adquirido por meio de bebericadas e saçaricos sem custo e sem esforço que estão disponíveis full time e for free.

Isso mostra a metafísica presentista do brasileiro e suas consequências para a tal vida intelectual: nego acha que o negócio é assim e não contentes em querer lavar a própria burra, querem que, se possível, os OUTROS lavem a burra DELES por eles. “Resolva VOCÊ o meu problema “intelectual” AGORA. Tapinha nas costas”.

Desde 2018 que adotei por política própria cobrar por palestras ministradas. A quantidade diminuiu, mas a qualidade aumentou substancialmente. Cortei na raiz o “venha divulgar o seu trabalho”. Não sou cantor amador de boteco pra essas coisas (e acho que nem esses pobres merecem esse destino).

Ano que vem termino de passar o facão nessa fuleiragem completa. Vocês pagam 150 reais por meia hora de consulta com um médico clínico que vai recorrer ao Google. Pagam gordos honorários a advogados pra você mesmo acompanhar o próprio processo no site da justiça. Mas o presentismo brasileiro, junto da vontade de lavar a burra, numa lei de Gerson ao quadrado, joga qualquer esforço intelectual pra baixo do bueiro, “veja bem…”, “não é bem assim…” — manda essa pro médico que vai te receitar ibuprofeno e vê se cola, pra cima de mim, não mais.

Eu não lavei a minha burra — nem à sua custa nem à minha própria, não venha querer que eu lave a sua por você.

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