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Ciência Política

Narrativas: prefácio do livro “Sorria, você está sendo enganado”

13 de janeiro de 2021
Narrativas: prefácio do livro “Sorria, você está sendo enganado”
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NARRATIVAS ENGANOSAS: COMO A ESQUERDA FAZ PARA SE PERPETUAR NO PODER

No tempo presente, defender o estudo da literatura clássica, propor um debate sobre os méritos de um Abraham Lincoln ou até exibir um filme biográfico sobre um filósofo virou, em ambiente universitário especialmente, mas público em geral, tarefa não apenas ingrata, mas às vezes simplesmente impossível ou até perigosa. Por que e como chegamos nesse estado de coisas é uma questão importante, talvez a mais importante em termos de guerra cultural hoje. E é justamente a esmiuçar o processo que nos conduziu até tal situação ao que se propõe o jovem amigo Rafael C. Libardi neste Sorria, você está sendo enganado que tenho o prazer e honra de prefaciar.

Aliás, muito me satisfaz poder participar ativamente da concretização dessa obra. Rafael e eu compartilhamos dum bocado de ideias, provavelmente todas dentre as mais importantes; queremos, por meio de um conservadorismo — imbuído de toda cultura conservadora possível, porém combativo — altivo, ser agente atuante na guerra cultural, sendo pontos de inflexão daquilo que se estabeleceu como poder hegemônico vigente: os tentáculos da esquerda na esfera cultural. Nada disso pode efetivamente ser concretizado sem tomar em sua literalidade devida o ensinamento do professor Olavo de Carvalho de que, se pretendemos ganhar o bom combate, é tomando e invertendo a coisa por meio da cultura que isso se dará.

Dessa sorte, o livro que o leitor tem em mãos é uma espécie de navio quebra-gelo para esse enfrentamento. Contém de tudo um pouco que um iniciado precisa saber: refutações claras e distintas dos principais mitos progressistas perpetrados pelas elites falantes (inclusos aí estão tanto esquerdistas hardcore metamorfoseados em “progressistas” quanto gorda parcela de liberais); e isso feito por meio de prosa agradável, lógica implacável e referências tanto de cultura elevada como de esquemas mentais de uso cotidiano, fazendo tanto o leitor ainda não-iniciado nesse debate se sentir revigorado e crente que ele é capaz de e que vale a pena engajar-se para salvar o que merece ser salvo, quanto oferece ao leitor já envolvido com o conflito referências que podem ser-lhe novas e extremamente úteis.

Isso posto, tendo justamente por eixo ao longo de todo o livro justamente essa centralidade da cultura (o que torna Sorria, você está sendo enganado uma obra única), o que é feito aqui é um ataque frontal àquilo que acredito ser a principal estratégia de manutenção de poder das esquerdas: o monopólio das narrativas. Quem controla as narrativas controla tudo e, em grande parte, embora conservadores nunca tenham desferido tantos ataques à esquerda quanto atualmente, considero perfeitamente razoável afirmar que quem conta a história em nível de imprensa, universidade, meio artístico, em suma, de intelligentsia, ainda é a esquerda.

Quem narra os fatos não os descreve com a acurácia devida, mas tal como uma produção escolar de texto de tipo narrativo, insere no contar das coisas aquilo que julga devido ao seu bel-prazer. Inserindo isto no contexto político-ideológico que nos interessa: a esquerda, num dado momento de seu percurso histórico, percebeu que para vencer vale a pena controlar a história primeiro, fazer violência depois. Primeiro vilipendiamos nossos inimigos com inverdades, depois lavamos o chão com seu sangue. De certa maneira, a estratégia não é nova (embora esteja a todo vapor em nossa época), durante o próprio período soviético houve uma espécie de conjugação das duas coisas: era necessário matar camponeses, kulaks, burgueses, inimigos da revolução, companheiros de viagem, desertores, mas também era necessário pintar os inimigos mais distantes como “fascistas”, a fim de fazer os mais inocentes crerem que quando finalmente os “inimigos” fossem mortos, era mais que merecido pois, justamente, estava-se a exterminar “fascistas”.

Com o decorrer histórico da coisa, o surgimento de empreendimentos como o gramscismo, a Escola de Frankfurt, Saul Alinsky e o politicamente correto — devidamente escrutinados por Rafael Libardi neste livro, a estratégia do “mentir primeiro, matar depois” se consolidou na esquerda. Primeiro o monopólio do discurso, depois, se necessário for, a revolução armada.

O que Sorria, você está sendo enganado faz, portanto, nada mais é que abater com precisão e rapidez cirúrgica (digna e necessária para o brilhante médico em formação que o Rafael é), todos os principais pontos dessa narrativa esquerdista que se encontra imbuída em nossa cultura: mentiras políticas, geopolíticas, pedagógicas, sociais, históricas e econômicas que sustentam as falácias de esquerda que rondam como espectro macabro nosso pensamento.

Costumo dizer que boa parte do pensamento de esquerda hoje funciona como uma espécie de cavalo de Tróia: vendem-se com uma roupagem bonita e agradável, que ganha a adesão de moderados honestos e também serve de pele de cordeiro para lobos, mas que quando bem avaliadas em sua inteireza, mostram seu caráter verdadeiro: radicalismo, revolução social, degeneração, inversão de papéis e valores, caos social etc. O trabalho essencialíssimo feito pelo Rafael em sua obra primogênita, portanto, seria desvelar aos olhos mais distraídos essa verdadeira natureza dessas tantas pautas esquerdistas, mostrar em toda sua crueza o que verdadeiramente são: narrativas enganosas.

Exemplos notórios, cujas refutações impecáveis constituem das minhas partes favoritas do livro são o aborto e o feminismo (“As mentiras sobre o Aborto” e “As mentiras sobre o Feminismo”). Quem nunca se deparou com um defensor do aborto que usa o slogan “meu corpo, minhas regras” para legitimá-lo, dando a entender que tudo se trata de um apelo à individualidade de cada um e é ingerência carola no corpo dos outros querer dar pitaco em quem faz ou deixa de fazer aborto? Ou então, todos já devem ter ouvido a seguinte tirada em defesa do feminismo, “mas eu apenas quero igualdade entre homens e mulheres!”. Narrativas enganosas que funcionam como cavalos de Tróia! Como é muito bem apontado no livro (e servindo-se inclusive de seu conhecimento médico para provar como, na verdade, o bebê é distinto do corpo da mãe), “se o feto é [fosse] o corpo da mulher, ainda assim jogá-lo fora não seria aborto, mas remoção de órgão sem fim terapêutico” (o que constitui crime segundo o Código Penal). Ou ainda, sobre a mentira feminista, Rafael afirma que “A luta pelos direitos que são direitos de qualquer ser humano é justa, válida e necessária”, porém, em verdade, o que a ideologia odienta do feminismo faz, por trás do véu de preocupação com igualitarismo é “ [o feminismo] instilou na sociedade a desintegração psíquica e emocional das mulheres ao mesmo tempo em que fomentou o sentimento de culpa por se ter nascido homem”; eis que se encontra exposta a versão verdadeira do feminismo: misândrica e muito longe do alegado igualitarismo papagaiado por suas militantes. Essa é a tônica da obra: a aplicação do mesmo método de dissecção lógica contra os cavalos de Tróia que enganam muitos sobre a Igreja Católica, o Regime Militar, as Cotas Raciais, o Desarmamento, o Aquecimento Global e outros.

Citando a já famosa sentença de alguém que fez a cabeça do Rafael tanto quanto faz a minha, o sempre sábio profeta do bom senso, Gilbert Keith Chesterton, “chegará um tempo em que será necessário provar que a grama é verde”. Pois bem, esse tempo claramente chegou, todavia, nem tudo está perdido, Rafael C. Libardi é alguém que vai trazer as coisas de volta para o seu devido lugar e mostrar a nós que a grama é verde sim e que é possível prová-lo, é exatamente isso que você tem em mãos, bem à sua frente, caro leitor!

ANDRÉ ASSI BARRETO

São Paulo, outubro de 2017

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