
O trecho acima faz parte do livro “Reflexões: Filosofia e cotidiano”, da editora SM, como parte de um longo capítulo sobre “filosofia e feminismo”.
A referência completa é:
VASCONCELOS, José Antonio. Reflexões: Filosofia e cotidiano. 1ª ed., São Paulo, edições SM, 2016.

Segundo o autor, supõe-se, o tradicional silogismo (do grego antigo συλλογισμός, raciocínio, forma elementar de um argumento; constituído de premissa maior, premissa menor e conclusão) é evidência do machismo incrustado na linguagem, na filosofia e na própria lógica.
Isso porque, como ilustra a imagem, para designar ser humano usa-se a palavra “homem” em vez de “ser humano” ou “humanidade”. Ainda, se Sócrates fosse substituído por “Sofia”, o silogismo perderia sua validade.
Deveria ser desnecessário dizer que um grego jamais pensaria tal coisa, visto que “Sofia” só virou nome próprio em tempos modernos. Para os gregos “sofia” é sophia (do grego σοφός, sophós) — sabedoria. O filósofo é amante da sabedoria (philos + sophos) — e não da opinião, da crença etc.
Mas a coisa não para por aí. O autor do livro, ou “x” responsável pela redação do capítulo, como suposto conhecedor de filosofia, faltou no basicão das aulas de grego antigo.
Ao contrário do que se pode pensar, o exemplo não se encontra no corpus aristotélico, mas ao que tudo indica, na obra do cético antigo Sexto Empírico (Hipóteses Pirrônicas, Livro II, 164):
“Sócrates é humano.
Tudo que seja humano é animal.
Portanto, Sócrates é um animal”.
Outra variante do silogismo apareceu, anos depois, na obra do medieval Guilherme de Ockham em sua Suma Lógica, III 1,3;36rb:
“Todo homem é um animal.
Sócrates é homem.
Portanto, Sócrates é um animal”.
Para a palavra “homem” aqui, em sentido de gênero humano, os antigos usavam a palavra “antropos” (que gera a palavra “antropologia”, estudo do ser humano, do homem) — άνθρωπος. Ao passo que homem, por oposição a mulher, é grafado conforme a imagem abaixo:

O sacrifício da realidade no altar da militância feminista chegou no universo dos livros acadêmicos há uns bons pares de décadas, mas sua chegada nos livros didáticos que circulam nas escolas públicas e particulares é relativa novidade.
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